sábado, 29 de julho de 2017

Navio

Tudo parece-me estranho
Tamanho é o desejo de estar a sós
Sem aqueles nós que naufragaram
E me ataram à vontade de correr veloz
Fugir do algoz que inventei pelo medo
Pelo erro, pelo pelo que caiu após
A partida breve sobre a neve
Cuja pele escorre em meus lençóis

Súbitos anseios permeiam o que ficou em nós
E calada na madrugada acordada, enlaçada pelos anzóis
Deste navio que ainda permanece inerte no fundo de corais azuis
Recordo-me hoje com olhos marejados, cansados de vida e de vontades senis
Mesmo que a idade fale mais dos beijos que eu não quis
Mesmo que a mão ainda guarde a marca que nasce sem fim
Pois permanece como um bálsamo da coragem que eu nunca fiz
E, assim, faço do meu castelo de areia a barragem de você em mim

Ticiana Vasconcelos Silva


sábado, 8 de julho de 2017

O Caminho

Tudo isso é um sonho de Deus:
Eu, você e Deus
Tudo isso que se deu como meu 
E todo erro que se cometeu
Luzes refletidas em lágrimas caídas
Sonhos de suspiros e frios na barriga
Olho para o céu e não vejo saída
Insano imaginar uma estrada sentida
Sem sentido e corroída pelos vermes da roda viva
Pés no chão, mãos estendidas
A grosso modo são esculpidas
Calejo no sol e no deserto da vida
Que não se vê com os olhos, mas sim com a medida
De um tempo que sucumbe pelos ventos da palavra perdida.

Ticiana Vasconcelos Silva

Notre Dame 


segunda-feira, 3 de julho de 2017

Dor escondida

Escrever é um ato de ousadia
No espaço que se defronta à minha frente
Vejo linhas conjugadas ao que ainda não foi dito
Por isso, um perigo na iminência do fazer escondido

Meu tato se desprende no vazio de linhas brancas
Não meço o que não se pode contornar
Apenas me lanço como um jato que não é visto
Apenas me esforço em um ato comedido

Ganho pela grandeza de ver o sol como um astro que está morrendo
E me arrisco a ser só para não ultrapassar viscerais linhas invisíveis
Faço dessa conjectura um desenho de razoável colorido
E isso me faz adentrar ao que ainda está dolorido

Dor de mãe de anciã de irmã e de filha
Em que se aterra e se encontra as mais duras partidas
Dor de saber que tudo é e está perdido


E que apenas a ignorância é aquilo que nunca será corrompido

Ticiana Vasconcelos Silva
Katie Scott