sábado, 4 de novembro de 2017

No peito arde a mais inglória dor
Sangrando palavras mórbidas
Corroendo os dentes imóveis
Sussurrando sombras e mistérios

No peito vive a mais espantosa flor

Como se de mantos velhos se cobrisse
Como se abrisse e sumisse
Como se na primavera se abrumasse

Espantos do dia, luzes da noite

Solenes curvas que sobrecarregam o que ainda está por vir
Porvir sem constatações
Cantos sem objeções

No sangue a matéria inconstante

Permanecendo vítima do ritmo moribundo do mundo
Sonhos estranhos
Tamanho o desassossego
Desenho raso de um mar sem cor

O verbo rasgado e usado

Sem dar movimento, estagnado
Urso hibernando
Poema sem vigor

E na pele amaldiçoada

A cinza esparramada
Os olhos trêmulos
O gesto do desamor

Ticiana Vasconcelos Silva

José Suassuna

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